Prisões desarticulam organização, que perdeu apoio até de seus fundadores e recebe críticas de todos os lados
Jamil Chade - O Estado de S. Paulo
Para o professor de ciências políticas Rolégio Alonso, da Universidade Rei Juan Carlos, os atentados de quarta-feira e de ontem são apenas uma "demonstração fictícia" da força do grupo terrorista. Para ele, a ETA tenta mostrar que está viva. "Mas isso não esconde a fraqueza em que o grupo se encontra. Ele está em uma descomposição evidente", disse.
Para Alonso, foi a pressão policial e judicial que levou ao enfraquecimento da ETA. Alonso ainda aponta para uma "crisis operativo-militar" de graves proporções dentro do grupo. Nos últimos anos, o número de prisões de chefes do grupo aumentou e a luta contra a ETA ganhou terreno com a chegada de Nicolas Sarkozy ao governo da França, em 2007. Sob seu comando, o país deixou de fazer vistas grossas aos dirigentes do grupo que usavam o território francês como um santuário.
Com a proliferação de prisões, a direção do ETA foi obrigada a passar por mudanças constantes. Alonso ainda aponta um documento da direção do ETA obtido pela polícia em 2008, em que o grupo admite que "o balanço dos últimos anos expressa o esgotamento de um ciclo". O documento também admite o "debilitamento progressivo" do grupo e um "desequilíbrio entre os ataques repressivos do inimigo e a resposta armada".
Uma série de golpes ainda foram dados na estrutura política do grupo. Neste ano, pela primeira vez desde a redemocratização da Espanha, o partido nacionalista perdeu as eleições no País Basco. Para os analistas, a derrota foi um sinal de exaustão do discurso separatista. Para completar, em junho, o Tribunal de Direitos Humanos da UE, em Estrasburgo, confirmou o direito do Supremo Tribunal Espanhol de ter declarado o Batasuna como um partido ilegal diante de suas conexões com o ETA.
Moradores do País Basco dizem que criticar a ETA ainda é um tabu na região. Um jovem, que pediu anonimato, contou que a sociedade não sabe lidar com o fenômeno. "Muitas vezes não falamos sobre o tema para evitar perder amigos ou romper com a família", afirmou. "Não se estuda o terrorismo na escola." Ele garante que a vida tem seu ritmo normal no País Basco. Mas admite que deixa de ir em alguns bares frequentados por membros do ETA ou cujos dirigentes controlam a renda do local. "Não queremos deixar dinheiro a esses assassinos", contou.
A atual situação da ETA também frustra Julen Madariaga, fundador da organização e um dos que criaram o movimento Aralar, um partido de esquerda no País Basco, independentista, mas que é contra a violência. Em entrevista a El País, Madariaga denunciou o uso da violência como recurso político. "A ETA não teve a lucidez nem a valentia política de ver que os tempos mudaram, dentro e fora do País Basco", disse. "Quando a ETA foi fundada, tínhamos formação política, cultural e ideológica. Os que agora a comandam são crianças. Uns sem-cérebro que só pensam em matar", afirmou.