Observada pela polícia, ambulância deixa a clínica 'La Quiete', onde estava internada a italiana Eluana Englaro |
ROMA (AFP) — A polícia italiana organizou um dispositivo de proteção nesta terça-feira na clínica onde morreu Eluana, a italiana em estado vegetativo desde 1992 e que se tornou símbolo da batalha pelo direito a uma morte digna, para evitar confrontos entre partidários e adversários da eutanásia.
Diante da clínica de Udine, no nordeste da península, cerca de 300 manifestantes católicos pró-vida se reúniram na segunda-feira à noite depois de divulgada a notícia da morte de Eluana.
Os manifestantes gritavam palavras de revolta contra a família e as autoridades judiciais que autorizaram a retirada da sonda de alimentação e hidratação que mantinha Eluana com vida.
"Assassinos! Bandidos!", gritavam os manifestantes, que também rezavam e entoavam canções religiosas.
Um pequeno grupo de laicos, que apoiou a decisão do pai de Eluana de batalhar judicialmente para obter o direito a uma morte digna, permanecia em silêncio na outra entrada da clínica, com um cartaz que diz "Solidaridade a Beppino", o pai da moça.
As autoridades determinaram uma necropsia do corpo de Eluana para determinar as causas exatas da morte, que ocorreu antes que o previsto pelos médicos.
A morte de Eluana foi anunciada no fim da tarde de segunda-feira pelo ministro italiano da Saúde, Maurizio Sacconi, aos senadores, reunidos para examinar um projeto de lei destinado a impedir a suspensão da alimentação da jovem, autorizada pela justiça.
Os senadores observaram um minuto de silêncio em memória de Eluana Englaro, 38 anos, morta três dias depois da interrupção de sua alimentação e hidratação.
O Senado italiano estava reunido em sessão de emergência para examinar um projeto de lei apresentado pelo governo de Silvio Berlusconi para impedir a morte da jovem.
Em dezembro, a família da jovem conseguiu na justiça a autorização para deixá-la morrer. Os médicos pararam de alimentá-la e de hidratá-la na sexta-feira, dando à paciente apenas sedativos para amenizar o sofrimento.
Depois de esgotados todos os recursos, Silvio Berlusconi decidiu na sexta-feira fazer aprovar em regime de urgência pelo governo um decreto-lei para impedir a execução da decisão judicial.
Ele foi obrigado, no entanto, a renunciar ao projeto ante a recusa do presidente da república, Giorgio Napolitano, de assinar tal decreto, por considerá-lo inconstitucional.
Começou, então, uma corrida contra o relógio para a aprovação do texto pelo Parlamento.
Berlusconi justificou a pressa, sem precedentes na história parlamentar italiana e muito criticada pela oposição de esquerda, pela preocupação de não "ser acusado de não prestar assistência a uma pessoa em perigo".
Segundo uma pesquisa publicada domingo pelo jornal Corriere della Sera, a Itália estava dividida entre os partidários da manutenção da alimentação (47%) e os que se opunham a ela; 6% não manifestaram opinião.
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