domingo, 28 de dezembro de 2008

Uma tradição cultural que muda a cara de uma cidade




Da Redação
Agência Pará

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Pelo menos uma maruja ou um marujo de cada família para segue para agradecer, homenagear e referenciar o padroeiro São Benedito de Bragança

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O dia 26 de dezembro, é o grande dia para quem nasceu em Bragança ou se tornou bragantino no tempo, é o dia de se fazer referências a São Benedito

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O orgulho se reflete no brilho dos olhos, rostos e vozes, sorrisos e gestos de marujos e marujas em respeito ao Santo Padroeiro, São Benedito

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O prefeito de Bragança de Portugal, Antônio Jorge Nunes, se mostrou feliz e não resistiu, caiu na dança com as marujas no Teatro Museu da Marujada

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O vermelho e o branco das indumentárias de marujas e marujos colorem as ruas nas caminhadas e romaria em louvor a São Benedito de Bragança

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Ao amanhecer no dia 26 de dezembro na Pérola do Caeté, das casas e ruas de todas as comunidades dessa bela cidade, no nordeste paraense, na região Caeté, saem pelo menos uma maruja ou um marujo de cada família para agradecer e homenagear São Benedito de Bragança. É assim mesmo que o Santo é conhecido, como também é reconhecido o co-padroeiro dos bragantinos, ao lado de Nossa Senhora do Rosário.

Este é o grande dia de São Benedito, para quem nasceu em Bragança ou se tornou bragantino no tempo. São 210 romarias ao longo da história como canta uma música em louvor ao “Santo Preto”, que teria chagado na cidade pelas águas do rio Caeté, também como reza a cultura musical e religiosa local.

O vermelho e o branco das indumentárias de marujas e marujos colorem as ruas nas caminhadas e romaria, e no barracão, na hora dos bailes ao som de rabecas, banjos e tambores. Instrumentos que embalam as gingas das danças ao ritmo do retumbão, chorado, mazurca, xote, lundu e roda. “Todos os caminhos levam a São Benedito”, como disse um bragantino modesto, que prefere o anonimato.

O dia começa com um café da manhã na casa do presidente da marujada. Em seguida marujas e marujos vão buscar juíza e juiz, nas casas deles, e seguem para a missa, na igreja de são Benedito.

Da igreja para o barracão, da louvação ao retumbão, sempre com São Benedito no coração e pés descalços. Rima fácil, pobre, simples, mas capaz de narrar a profundidade expressiva dessa cultura original bicentenária, iniciada pelos escravos e mantida por descendentes e aderentes brancos, pardos e mestiços promesseiros e encantados.

O orgulho se reflete no brilho dos olhos, rostos e vozes, sorrisos e gestos. Falar sobre essa cultura para um bragantino é um prazer. Muita história existe pra contar e ouvir, a respeito da marujada, o lado profano da festividade.

A irmandade de São Benedito de Bragança foi fundada em 03 de setembro de 1798, como conta o professor e historiador Dário Benedito Rodrigues, consertando com palavras um erro histórico impresso em uma plaqueta na fachada da igreja, onde se lê a data “18 de dezembro de 1798”.

Dário é ainda o juiz da marujada, cargo anual conquistado por promessa após a espera em longa lista e que tem como devoção participar de toda a programação e ofertar almoço para marujas e marujos. A mesma obrigação da juíza, a jovem mestranda em Turismo Luana de Sousa Oliveira, que ofereceu almoço no dia 26.

Antes da comida, Luana agradeceu aos familiares o apoio a sua missão e à imprensa, governo do Estado e ao município pelo apoio ao evento e ainda pediu aos devotos de São Benedito que lutem “sempre” pela manutenção da tradição. “Independente de conflitos políticos e religiosos, devemos todos lutar por esta cultura maravilhosa”, resumiu.

A juíza e o juiz passam o bastão no primeiro dia do ano. “A Luana é filha de uma promessa”, comentou o pai, o chefe de cozinha e artista plástico Ofir Oliveira que está com 19 telas sobre óleo em exposição em Bragança. Segundo Ofir, um compadre fez a promessa ao Santo para que a esposa dele engravidasse. E após o tempo certo, nasceu Luana, orgulhosa defensora da marujada e da festividade de São Benedito.

Além das autoridades de juiz e juíza, na marujada também existem os cargos de capitão para os marujos e capitoa para as marujas. Esses cargos são vitalícios, mas são constituídos após eleição em assembléia da irmandade. Uma vez constituídos somente a morte para abrir eleição.

Teodoro Fernandes Ribeiro, como diz, não pode mais fazer o que fazia, passou seu cargo para o vice, José Maria Santiago da Silva, de 52 anos. Teodoro foi quem solicitou sua substituição, já está com 95 anos. “Sempre trabalhei com a diplomacia, quando alguém chegava queimado (bebido) pedia para se acalmar ou se afastar, para não apalhaçar (expressão dele) a brincadeira”, afirmou.

José Silva fala das dificuldades em comandar os marujos. “Para uns somos boas pessoas, para outros somos antipáticos”, declara, explicando que por ser a marujada a parte profana da festa, muitos querem dançar e outros se esbaldar e extrapolam, fazendo “besteira”. Segundo ele, o capitão tem que controlar e harmonizar o grupo, para não prejudicar a marujada. “Essa festa bonita deve ser mantida com irmandade, pois como diz o ditado, boi solto se lambe todo”, ensina.

Aracilda Corrêa, 62, é a capitoa. Ela está radiante porque recebeu a notícia que em 2009 vai ganhar perna nova, uma prótese a ser adquirida com dinheiro da venda das telas de Ofir Oliveira, em torno de R$ 3 mil, como disse o artista. Diabética, Aracilda perdeu a perna esquerda após picada de inseto. Sua perna foi amputada dia 8 de setembro de 2007. Há quatro anos foi eleita capitoa.

Conta ela que achou bonita a marujada após uma “olhada na dança no barracão”, quando tinha 28 anos. Assumiu a posto de vice-capitoa aos 35 anos, graças a sua performance no salão e devoção à irmandade. Assumiu o posto de capitoa após a morte da capitoa anterior.

Romaria – A festividade de São Benedito de Bragança é gigante. A procissão é uma das mais belas demonstrações de fé do povo paraense. A Polícia Militar estimou que este ano cerca de 40 mil pessoas, a maioria absoluta vestida de maruja e marujo, acompanharam o cortejo do festejado Santo Preto, por várias ruas da cidade. A roupa vermelha e branca dominou a cena. “Quem nunca viu tem que vê, é impressionante”, comentou um turista apressado.

Entre as pessoas ilustres, estiveram no cortejo, o secretário de Estado de Cultura, Edílson Moura, a secretária de Estado de Desenvolvimento Urbano e Regional, Suely Oliveira e a diretora-geral da Escola de Governo do Estado do Pará, Edilza Fontes. Quem também visitou Bragança paraense pela primeira vez foi o prefeito de Bragança de Portugal, Antônio Jorge Nunes.

O prefeito se mostrou feliz e não resistiu, caiu na dança com as marujas no Teatro Museu da Marujada. Foi o primeiro natal longe da família. Aceitou o convite do prefeito paraense, Edson Oliveira, após já ter conhecimento de Bragança por informações da jornalista paraense Anete Ferreira e da professora da Universidade Federal do Pará, Nazaré Paz de Carvalho. “Vim conhecer um povo irmão e encontrei uma grande família”, comentou sorridente.

Nunes comentou que em Bragança, no seu país, existem festas tradicionais seculares, com características similares, com trajes ricos em cores, cantos e instrumentos tradicionais, como a gaita de fole. “O importante é conhecer o diferente”, ressaltou, dizendo que convidou Edson Oliveira para visitar sua Bragança, na terceira semana de fevereiro. Antônio Nunes está em seu terceiro mandato na prefeitura de Bragança portuguesa.

A agente administrativa, Marli Matos, aceitou o convite de uma prima bragantina após manifestar curiosidade e não pensou duas vezes, comprou a indumentária e se vestiu à caráter de maruja. “Fiquei encantada com a fé, devoção e com a multidão, é maravilhoso, fui cativada para sempre”, ratificou.

Por Lázaro Araújo / Secom

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