Diz um antigo provérbio: “Enquanto os cães latem a caravana passa”.
Para todos aqueles acostumados com as intempéries da vida, especialmente
as decorrentes das implacáveis perseguições dos poderosos, isso
ressoava como um canto a embalar a dura vida com um pouco de lirismo e
poesia. E mais do que isso, servia como balizamento, em dizer
altissonante a cada alma que a caminhada deverá prosseguir, crescendo e
vencendo até o fim, a despeito dos latidos opositores dos cães de
plantão contra sua vida.
Crescer demanda tempo. Vencer, também. Muito embora não poucas pessoas
se sintam frustradas com o ritmo do seu crescimento pessoal, pois
gostariam de estar muito mais próximas da maturidade do que realmente
estão, essa é uma área que também não admite queima de etapas. Se alguém
pretende crescer, não pode “matar” o tempo por preguiça, nem estacionar
no meio do caminho por causa de críticas ou deixar de concluir sua
jornada em razão de problemas.
Lembro-me
da conversa de um aluno impaciente com o diretor de sua faculdade,
querendo saber se havia algum curso rápido que lhe permitisse se formar
mais cedo. O diretor lhe disse: “Há, sim, mas depende do que você quer
ser. Um carvalho leva cem anos para estar pronto. Uma abobrinha leva
apenas seis meses”.
Isso
ilustra a possibilidade de alguém, ao se sentir desanimado por
encontrar diante de si lutas árduas demais, ou injustiças que lhe
atinjam, ou mesmo estar decepcionado por manter comportamentos
impróprios que pensara ter vencido, venha a desejar, finalmente, que a
“escola” termine logo. Alguns acham muito mais fácil desistir, ficar
pelo caminho. E não são poucos os que assim procedem. Mas deve-se levar
em conta que crescer demanda tempo. Isso é verdade para árvores, para
empresas, para países... e é verdadeiro também para pessoas.
Crescer também demanda aproveitamento das oportunidades que o tempo
provê. As oportunidades permitem os picos de crescimento. Por exemplo,
botânicos afirmam que algumas árvores crescem mais rapidamente na
estação quente, num período de quatro a seis semanas, quando as fibras
de madeira são formadas entre a casca e o tronco. Ao longo de todo o
ano, essas mesmas fibras se transformarão em madeira robusta. É desse
tipo de madeira que serão feitos os móveis que resistirão, quiçá, a
muitas gerações.
Essa
é uma parte vital do processo de crescimento. Chame a “estação mais
quente” do que quiser: problema, tribulação, desafio, provação, crise,
perseguição etc. Essa é a fase que poderá lhe permitir picos de
crescimentos seguros, se vir a tirar proveito das lições que a vida
oferece nessas ocasiões.
Então, se você se pergunta a razão de não estar crescendo tão rápido
quanto gostaria, poderia usar uma abordagem diferente. Em vez de se
desesperar ou esmorecer, poderia avaliar se não está tão somente se
tornando mais “robusto”.
Por outro lado, crescimento pressupõe dor, mudança, crise. Essa fase de
algum modo conjugará não apenas fatores de oportunidade de vitória, mas
paradoxalmente, até mesmo conspirará para minimizar suas chances na
vida ou destruir os seus sonhos. É certamente por isso que muitos
sucumbem pelo caminho, deixam de crer na vida, ou simplesmente se tornam
cínicos.
É
preciso não perder o foco de quem somos e aonde queremos chegar. É
necessário ver cada etapa, quer a chamemos de mudança ou crise, com a
perspectiva correta. Ou seja, cada desafio deve ser visto como uma
oportunidade de crescer melhor e mais robusto. Ou então, para os fracos,
apenas uma conspiração para lhes atrasar a caminhada.
Fulano parece forte, mas com a dor e a adversidade murcha e se torna
frágil e perde a sua força. Beltrano tem um coração maleável e um
espírito dócil, mas depois de uma demissão, uma falência, um divórcio ou
uma perda, se torna ríspido e duro. Até parece a mesma pessoa, mas fica
amargo e obstinado, com o coração e o espírito inflexíveis. Sicrano,
porém, enfrenta a vida e, mesmo que as coisas piorem, torna-se cada vez
melhor e faz as coisas em torno de si também melhorarem.
Qual
é a diferença? A diferença está na atitude, em como agimos e reagimos
face às dificuldades, pois é isso que determinará que tipo de pessoa
brotará para a vida. Isso tem a ver com o nosso alvo de vida, com o tipo
de pessoa que queremos ser. Deixar que outros determinem o que seremos,
se devemos ser rudes ou corteses, se devemos exultar ou ficar
deprimidos, é dar ouvidos ao latido dos cães e, consequentemente, abrir
mão da própria vida. Decerto, quem não sabe aonde vai, qualquer caminho
leva, e não chega nunca. Devemos, então, decidir se queremos ser como o
duradouro “carvalho” ou como a breve “abobrinha”.
Em
um plano maior, nutro a respeito do Brasil um pensamento semelhante. Os
problemas que o país tem enfrentado em sua história já poderiam tê-lo
abatido como nação. Mas não! Quando parece que tudo vai desmoronar, há
sempre uma reviravolta. Não importa se há Mensalão ou Petrolão, ou se
virão ainda o Eletrolão e o Presidentão, tenho por certo que os
corruptos não dirão a última palavra no Brasil, nem tampouco os imorais,
os extremistas, os entreguistas, os injustos, os ímpios, os cínicos
etc.
Sonho
com um Brasil carvalho, um “gigante pela própria natureza”, mas
acordado e lutando, não abobrinha entreguista “deitado eternamente em
berço esplêndido”. Oro para que o Brasil conheça a Deus e experimente,
assim, que “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”.
Desejo a todos um extraordinário 2015, que lutem sempre, crescendo e vencendo... até o fim.
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém